(pt) O capital teme novo "crash"

Antonio Martins (abp@ax.apc.org)
Mon, 27 Oct 1997 10:13:06 -0200


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TRES CERTEZAS EM PEDACOS

O TERREMOTO DAS BOLSAS DE VALORES DESMENTE O MITO=20 DE QUE A GLOBALIZACAO NEOLIBERAL E=B4 SEGURA .......................................................................

O caminho do sucesso para as economias "emergentes" e=B4 mergulhar sem medo nas oportunidades abertas pela globaliza<a~o? Os fluxos de capital externo que irrigaram estes pai=B4ses na u=B4ltima de=B4cada, garantiram o sucesso d= os planos de estabiliza<a~o e estimularam, em alguns casos, ciclos nota=B4veis de desenvolvimento va~o perdurar indefinidamente? Os riscos de um crash de consequ=A8encias devastadoras ficaram para tra=B4s? Repetidas exaustivamente nos u=B4ltimos anos, ao ponto de se transformarem em dogmas, estas certezas tornaram-se desde a =FAltima quinta-feira vulnera=B4veis como as moedas asia=B4ticas. Mesmo que as desvaloriza<o~es em cadeia sejam um fenomeno impressionante, muito mais profundos do que elas sa~o os movimentos que as detonaram. E sobre estes, os jornais na~o falam.=20

O antecedente mais imediato do terremoto de quinta-feira (que parece reeditado nesta segunda) e=B4 por certo a crise dos "tigres" asia=B4ticos. Durante muitos anos, Core=B4ia, Taiwan, Hong Kong e Singapura - e mais tarde Indone=B4sia, Filipinas, Tailandia e Mala=B4sia -- foram apresentados como prova de que as portas do progresso estavam abertas aos pai=B4ses do terceir= o mundo que abandonassem os projetos de desenvolvimento auto-sustentado e se voltassem para o mercado mundial. Os primeiros resultados foram de fato alvissareiros. Uma for<a de trabalho a princi=B4pio barata e reprimida e um fluxo conti=B4nuo de investimentos transformaram os tigres em centros industriais e financeiros respeita=B4veis. A produ<a~o economica e a renda per capita cresceram a taxas expressivas por anos a fio. A modernidade chegou na forma da urbaniza<a~o, da forma<a~o de classes me=B4dias emergentes, das moedas nacionais indexadas pelo do=B4lar, do uso do ingles, dos arranha-ce=B4us de vidro e do ar irrespira=B4vel

....................................................................... DURANTE ANOS, OS TIGRES CRESCERAM SEM PARAR ENTA~O, O MERCADO MUNDIAL COME<OU A COBRAR SEU PRE<O .......................................................................

Ha=B4 cerca de dois anos, o mercado come<ou a cobrar seu pre<o. Uma forte alta do do=B4lar frente ao iene japones foi tornando a produ<a~o dos tigres pouco competitiva. Tambe=B4m na~o se perdoou a ousadia dos trabalhadores, qu= e diante do enriquecimento dos pai=B4ses exigiram e alcan<aram (principalmente na Core=B4ia) sala=B4rios melhores. Os tigres passaram a conviver com de=B4f= icits comerciais crescentes. A partir de maio deste ano, os investidores estrangeiros decidiram que era hora de deixa=B4-los =E0 pro=B4pria sorte. De= sde enta~o, a fuga abrupta de capitais esta=B4 provocando desvaloriza<a~o das moedas, interven<o~es do FMI, queda dos sala=B4rios reais, corte de investimentos pu=B4blicos. Ningue=B4m sabe onde esta=B4 o fundo do po<o. A edi<a~o desta semana da revista britanica "The Economist" (http://www.economist.com) trata o problema com uma ponta de humor negro. Aposta que o comportamento dos pai=B4ses do sudeste asia=B4tico vai evoluir mais ou menos como o das pessoas a quem se da=B4 uma pe=B4ssima noti=B4cia: = "do choque para a nega<a~o, a raiva e depois a aceita<a~o"... E chega a prever, numa mate=B4ria intitulada "Algo horri=B4vel la=B4 fora", que a bola da vez = podem ser os pai=B4ses do Leste Europeu.

A queda espetacular da bolsa de Hong Kong e=B4 um si=B4mbolo da fragilidade = das economias nacionais diante dos humores loucos dos mercados financeiros. O enclave rece=B4m-incorporado =E0 China possui reservas de 80 bilho~es de do=B4lares. Somadas =E0s chinesas, sa~o 222 bilho~es - mais que qualquer out= ro pai=B4s do mundo. O que e=B4 isso, pore=B4m, diante de um mercado que= movimenta 1 trilha~o de do=B4lares por dia - e no qual montanhas de dinheiro podem ser movimentadas para qualquer ponto na velocidade instantanea das redes de computadores?

Amarrado ao dinheiro dos Estados Unidos por uma cota<a~o fixa desde 1983, o do=B4lar de Hong Kong estava desde o ini=B4cio da semana passada sob pressa~= o de investidores que queriam deixar o mercado local. Ao inve=B4s de enfrentar os especuladores, o governo preferiu seduzi-los com uma chance de ganhos sem precedentes. Elevou as taxas de juros ate=B4 200% ao ano, em certos momentos da quinta-feira. A cota<a~o da moeda foi preservada, mas o efeito colateral foi desastroso. Atrai=B4dos pelos juros, os aplicadores abandonara= m a bolsa de valores, que sofreu uma desvaloriza<a~o sem precedentes de mais de 10% num so=B4 dia.

Foi a pro=B4pria globaliza<a~o que espalhou o tremor pelo mundo, num curioso efeito-domino=B4. Para compensar prejui=B4zos na A=B4sia, os investidores ve= ndiam pape=B4is em outras bolsas, provocando quedas em cadeia. A maior, fora Hong Kong, foi a de Sa~o Paulo (-8,15%). Ainda assim, e=B4 prova=B4vel que os analistas do governo e dos jornalo~es continuem dizendo que a crise atual e=B4 um fenomeno restrito =E0 A=B4sia, que o real esta=B4 imune e que a econ= omia brasileira pode ate=B4 ganhar com a desgra<a alheia...

Num mundo em que se deu liberdade ine=B4dita aos mercados de dinheiro, e em que os quase todos os governos nacionais sa~o cada vez mais impotentes para gerir suas economias, poderia ocorrer um crash de consequ=A8encias sociais e economicas semelhantes =E0s de 1929? Ao participar de um debate na PUC de Sa~o Paulo, em maio deste ano, o professor Fran<ois Chesnais, autor de "A Mundializa<a~o do Capital", disse claramente que sim. Segundo ele, uma das caracteri=B4sticas da contra-revolu<a~o neoliberal iniciada nos anos 80 foi derrubar os limites que haviam sido impostos aos mercados a partir da de=B4cada de 30, precisamente para evitar a eclosa~o de novas crises.

....................................................................... O PROFESSOR MARXISTA VE O RISCO DE UM "CRASH" DEVASTADOR. A BI=B4BLIA DOS NEOLIBERAIS, TAMBE=B4M .........................................................

Ao contra=B4rio de Chesnais, talvez o cri=B4tico mais esclarecido da globaliza<a~o financeira comandada pelo capital, a revista "The Economist" e=B4 uma espe=B4cie de vanguarda intelectual dos que defendem o processo. Na= ~o se dedica, pore=B4m, ao jogo perigoso do oba-oba. Por isso, a capa e o editorial mais importante desta semana advertem contra o risco de um novo crash. Embora os comentaristas tentem convencer os investidores do contra=B4rio, prevalece "a velha sabedoria de que os mercados podem cair, assim como sobem", diz "The Economist". E vai ale=B4m. Frisa que uma nova queda das bolsas poderia na~o ser ta~o inofensiva quanto a que ocorreu ha=B4 exatamente dez anos, em Nova York: um movimento semelhante, hoje, "poderia destruir a riqueza equivalente a uns 2 trilho~es de do=B4lares. Na~o ha=B4 nenhuma garantia de que o FED [o Banco Central dos EUA] seria capaz de repetir a opera<a~o-salvamento sem acender a fogueira da infla<a~o. Nesse caso, a histo=B4ria se repetiria como trage=B4dia".

Na~o e=B4 essa a tendencia principal, por enquanto. Os sistemas economicos na~o entram em colapso por si mesmos. E quando as sociedades sa~o tomadas pela ide=B4ia de que na~o sa~o capazes de se auto-governar, o dinheiro faz isso por elas, com todo seu i=B4mpeto desumanizador. Para os investidores, cada nova crise e=B4 tambe=B4m uma boa oportunidade de nego=B4cios. "O= sudeste da A=B4sia voltara=B4 a ser atraente", disse ha=B4 poucos dias um analista dest= acado de mercados emergentes, "quando os sala=B4rios cai=B4rem e os governos corta= rem as despesas sem piedade".

A beleza do vendaval desta semana esta=B4 em ter desmentido dogmas, e aberto possibilidades. Ale=B4m de injusto, o mundo criado pela Nova Ordem ja=B4 na~= o e=B4 seguro. Conformar-se a ela era aborrecido, e agora tambe=B4m e=B4 perig= oso. Os homens e mulheres podem lan<ar-se a aventuras...

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