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(pt) Italy, Sicilia Libertaria #462 - Nossas histórias. Os cemitérios da máfia. (ca, de, en, it, tr)[traduccion automatica]

Date Tue, 21 Oct 2025 07:43:08 +0300


Não sei se descobrir um cemitério da máfia é, por si, uma grande notícia. Para mim foi, pouco depois dos atentados de '92, nas proximidades de San Giuseppe Jato, a dois passos de onde, dez anos antes, haviam sido assassinados Saro Riccobono e outros quatro. Mas nem isso - deixando de lado a objetiva complexidade dos lugares - é para mim o mais importante. No fundo, é uma história que, revisitada anos depois, tem sabor de relato tragicômico, quase fantozziano. Uma calota craniana sobressaía entre os detritos do pizzo Mirabella, às margens do riacho do Vallone Procura. Calota tomada por uma espécie de concha informe; extraída, manipulada e, por fim, ao perceber o que eu tinha nas mãos, interpretada como um homem do Mesolítico que consegui levar para casa. Então, estudante de Ciências Naturais, vi assim. Parece incrível, mas foi isso mesmo que aconteceu, ao menos até que algumas pessoas às quais recorri para a "determinação" me abriram os olhos. Seguiu-se quase uma corrida aos carabinieri e outros lances de cena. A notícia saiu em todos os jornais: quatro esqueletos foram retirados. Um fato que nunca escondi, embora tenha permanecido inédito até agora. Por fim, após poucas insistências de alguns amigos, decidi publicar tudo num livro que intitulei pelo que exatamente ocorreu: "Como descobrir um cemitério da máfia em San Giuseppe Jato e levá-lo para casa". Porque aquela "necrópole corleonesa" (assim a definiram os jornais) permitiu-me "rever" lugares e sensações até concentrar tudo numa ideia que hoje parece desbotada: não se quer ver a máfia porque ela está muito perto de nós. Conseguimos desvirtuar sua própria historiografia fazendo-a começar no mundo camponês que, com distanciamento de classe, apontamos como brutal, inculto ou, para usar uma palavra de conotação inteiramente negativa, "viddano". A máfia, porém, não nasce assim: vê-se surgir ao longo da esteira da gestão da violência que era dos nobres dos feudos e depois da burguesia que, nos primeiríssimos decênios do '800, saiu de seu oblívio social. Os feudos onde girava a economia de então (apenas aparentemente extintos, mas substancialmente reaparecidos com o latifúndio) mudavam de mãos; os novos proprietários eram burgueses ascendentes, com sólidos vínculos políticos, prontos a assumir (até armadamente) a gestão de um sistema econômico fundado no mais aviltante controle das massas camponesas, que continuavam privadas de tudo. Os novos donos eram notáveis, enfim pessoas abastadas, atribuíveis aos chamados galantuomini, termo pelo qual se entendia um prestigioso papel de classe. Entre eles, segundo o historiador Giuseppe Carlo Marino, originam-se os padrinhos mafiosos. A máfia defendia os interesses da burguesia, porque burguesa era ela própria. Há muitos exemplos, e no livro procurei deixar registro, misturando também com histórias da minha vivência, porque a máfia - voluntariamente ou não - todos nós respiramos. Há quem a tenha rejeitado e quem tenha feito dela, com apenas aparente distanciamento, des-honra de classe. Mas naquelas montanhas eu vivia a minha Anarquia. Ia pelas aves (a ornitologia sempre foi a minha paixão) e tinha quase a sensação de estar relendo História de uma montanha, do geógrafo anarquista Élisée Reclus, que "sentia" a Natureza, registrando aspectos precursores do ambientalismo. Reclus estivera em Palermo; descrevera, em sua Nova geografia universal, impressa na segunda metade do '800, o contraste entre os palácios nobres e a pobreza das massas; e depois o número de afiliados palermitanos da «maffia», estimado entre 4.000 e 5.000. Eu, ao contrário, escrevi apenas um conto em que revi a máfia "próxima" de mim - não a dos assassinos (felizmente nunca tocou a minha família), mas a do "sacco", a dos notáveis que conheci, do moralismo hipócrita, das igrejas da Palermo bene e do racismo contra os bairros pobres (obviamente apontados como "mafiosos"). Revi a Conca d'Oro e o Vallone Procura, que saudei entre carabinieri com picaretas e pás, já envoltos pela escuridão que trazia os odores do matagal perene. Naqueles anos ocorreram os atentados mais clamorosos, pela relevância dos mortos e pela deflagração. Só quem não quer ver finge não pensar no potencial subversivo daqueles fatos, até agora sem verdade judicial sobre os possíveis mandantes reais. Já acontecera, quando o Estado enviou, para uma repressão policial, o famoso Cesare Mori e, antes ainda, o prefeito Malusardi. Esquecemos, mas a pirâmide criminosa havia sido bem descrita justamente para a área de Partinico décadas antes; e, antes disso, já eram conhecidas as associações mafiosas e a própria estrutura da organização que, com a chegada de Lucky Luciano no pós-guerra, se tornará a Cosa nostra siciliana. Os traços de farsa fantozziana não estão só no meu achado tragicômico, mas também no modo como o grande público tomou conhecimento de termos como "comissão mafiosa" e suas ramificações em famílias e dezenas. Terminologia tornada célebre pelo "fascinante" filme O Poderoso Chefão. Praticamente tudo estava lá, inclusive os "arrependidos", amizades influentes, estimados profissionais. Naqueles anos, porém, políticos e prelados palermitanos negavam a existência da máfia. Não perceberam? Sua eliminação não poderia ocorrer senão no âmbito de uma revolta social que, contudo, quando eclodia (o exemplo mais formidável é o dos Fasci dei lavoratori siciliani), era eliminada pelo Estado e pela própria máfia. Talvez tenha razão Ciro Troiano, criminólogo, que, no prefácio do livro, lembra como, rapaz, na casa de um parente, Deus e o Estado me caiu na cabeça. Sem aquele acontecimento inquieto que ainda hoje "sinto", tenho certeza de que aquele pedaço de esqueleto que levei para casa eu jamais teria encontrado.

Giovanni Guadagna

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